segunda-feira, 5 de outubro de 2015

'EI' explode Arco de Palmira: Por que o grupo destrói sítios arqueológicos

Para especialista, destruição que parece insana e motivada apenas pela intolerância faz parte de elaborado jogo com objetivos políticos e econômicos.

David Roberts Da BBC
O grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI) destruiu no domingo (4) outro monumento da cidade antiga de Palmira, na Síria.
O Arco do Triunfo de Palmira foi "pulverizado" por combatentes que controlam a região, segundo a declaração de um ativista morador de Palmira à agência de notícias AFP.
Acredita-se que a construção tivesse cerca de 2 mil anos de idade.
Os combatentes do EI já tinham destruído dois templos na cidade antiga em agosto -- descrita pela Unesco como um dos mais importantes polos culturais da Antiguidade.
O grupo radical islâmico também se engajou ativamente na destruição sistemática de acervos de museus iraquianos e bens de inestimável valor histórico e cultural.
No entanto, apesar de ser vista como "crime de guerra" pelo Ocidente, toda essa destruição parece fazer sentido para o grupo. No oitavo número de sua revista, a Dabiq, o EI diz que vê a herança cultural antiga como um desafio para a lealdade do povo iraquiano ou sírio ao próprio grupo.
Portanto, destruir este patrimônio seria uma forma de rejeitar a "pauta nacionalista" que as estátuas, templos e até a cidades históricas representam.
Em um sentido mais amplo, eles se veem motivados a atacar o politeísmo onde quer que esteja e rejeitar a adoração de "ídolos" e dos locais erguidos para tal.
Por isso, causa pouca surpresa o fato de o grupo destruir locais ligados à história ou cultura muçulmana xiitas e sufi -- e até mesmo a sunitas como eles.
A ideologia do EI despreza outras variantes do islamismo mais até do que o cristianismo ou judaísmo.
No entanto, o artigo na revista Dabiq não entra no aspecto mais político ou prático dessa destruição: ela dá dinheiro e enche os cofres do EI.
Partes de estátuas se juntam às antiguidades pilhadas pelo grupo que são comercializadas no Ocidente. A ONU acredita que este tipo de comércio ocorre em escala industrial e gera milhões de dólares.
E há também o apelo direto da provocação. Vídeos e notícias de destruição de patrimônios históricos chocam e causam revolta em vários lugares do mundo.
O EI parece tirar proveito da lógica do ex-líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, de querer instigar o ódio e atrair os Estados Unidos e o Ocidente para uma sangrenta guerra "contra o Islã".
Neste sentido, declarações como a da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, dizendo que a destruição em Palmira é um "crime de guerra" e pedindo que a comunidade internacional se una contra os esforços do EI de "despojar o povo sírio de seu conhecimento, identidade e história", acabam sendo uma faca de dois gumes.
Apelos internacionais e a divulgação maciça da destruição deixada pelo EI correram as redes sociais -- o que é exatamente o que o EI quer. Mas a internet não pode ser "desinventada", não há como impedir que essas notícias cheguem ao conhecimento das pessoas.
Portanto, o que resta é expor, com raciocínio claro e objetivo, as hipocrisias, práticas e banalidades das políticas do EI como uma organização política.
David Roberts é um palestrante em do Departamento de Estudos de Defesa do King's College, em Londres.

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