quinta-feira, 31 de maio de 2012

Menino de 11 anos se fingiu de morto para sobreviver em Houla (Postado por Lucas Pinheiro)

BEIRUTE — Quando os pistoleiros começaram a matança de sua família, Ali el-Sayed, de 11 anos, disse que caiu no chão de sua casa e molhou as roupas com sangue de seu irmão para levar os assassinos a pensarem que ele já estava morto.

O menino sírio tentou parar de tremer, mesmo quando os pistoleiros, com longas barbas e cabeças raspadas, mataram seus pais e todos os quatro irmãos, um por um.

O mais jovem a ser morto foi seu irmão Ali Nader, de 6 anos. Ele foi atingido por dois tiros, um na cabeça e outro nas costas.

— Coloquei o sangue do meu irmão em cima de mim e agi como se estivesse morto — disse Ali via Skype na quarta-feira, cinco dias após a matança que o deixou órfão e sem irmãos.

Ali é um dos poucos sobreviventes do massacre na sexta-feira em Houla, na província de Homs. Mais de cem pessoas foram mortas, muitas delas mulheres e crianças que foram baleados ou esfaqueados em suas casas.

Os assassinatos trouxeram a condenação mundial imediata ao presidente Bashar al-Assad, que desde março de 2011 comanda uma violenta repressão a uma revolta popular. Ativistas dizem que até 13 mil pessoas foram mortas desde que a crise começou.

Quem são os milicianos shabiha

Investigadores da ONU e testemunhas culpam pelo menos algumas das mortes em Houla aos homens armados conhecidos como shabiha que operam em nome do governo de Assad.

Recrutas alauitas, os milicianos habilitam o governo a se distanciar de responsabilidade direta pelas mortes em estilo de execução, tortura e ataques de vingança que se tornaram marcas registradas do shabiha.

De muitas maneiras, os shabiha são mais aterrorizantes do que o Exército e as forças de segurança, cujas táticas incluem bombardeios em bairros residenciais e disparos contra os manifestantes. Os pistoleiros são deslocados especificamente para intimidar os oponentes de Assad.

O regime nega qualquer responsabilidade pelos assassinatos em Houla e coloca a culpa em terroristas. E mesmo se o shabiha forem os responsáveis ​​pelas mortes, não há evidências claras de que o regime diretamente ordenou o massacre.

Embora a revolta na Síria venha sendo uma dos mais mortíferas da Primavera Árabe, os assassinatos em Houla se destacam por sua brutalidade e crueldade.

Segundo a ONU, que está investigando o ataque, a maioria das vítimas foram baleadas à queima-roupa, assim como os pais de Ali e seus irmãos. Os atacantes pareciam orientar a atacar as pessoas mais vulneráveis, como crianças e idosos, para aterrorizar a população.

Este tipo de massacre — ainda mais do que o bombardeio e ataques com morteiros, que se tornaram ocorrências diárias na revolta — é um sinal de um novo nível de violência. Pela maioria dos relatos, os homens armados foram para Houla vindos de aldeias vizinhas, fazendo com as mortes ainda mais horríveis porque as vítimas podiam conhecer seus atacantes.

De acordo com ativistas da área, o massacre ocorreu após o Exército ter atacado as aldeias com artilharia e entrado em confronto com rebeldes locais após protestos contra o regime. Vários manifestantes foram mortos, e os rebeldes foram forçados a se retirar. Os homens armados pró-regime depois invadiram a área, fazendo a maior parte da matança.

Atacantes esperaram retirada de rebeldes

O ativista sírio Maysara Hilaoui disse que estava em casa quando o massacre em Houla começou. Ele disse que havia duas ondas de violência, uma a partir das 17h de sexta-feira e uma segunda às 4h da manhã de sábado.

— O shabiha aproveitou a retirada dos combatentes rebeldes. Eles começaram a entrar em casas e matando os jovens, assim como os mais velhos — disse Hilaoui.

Ali disse que sua mãe começou a chorar no momento em que cerca de 11 homens armados entraram na casa da família no meio da noite. Os homens levaram o pai de Ali e o irmão mais velho para fora.

— Minha mãe começou a gritar: “Por que levá-los?” — disse Ali.

Logo depois, os homens armados mataram toda a família de Ali.

Como Ali estava com seus irmãos mais novos, um homem em trajes civis levou a mãe para o quarto e atirou cinco vezes na cabeça e no pescoço.

— Então, ele saiu do quarto e usou uma lanterna para que o que estava na frente dele. Quando viu minha irmã Rasha, atirou na cabeça dela enquanto ela estava no corredor — relatou Ali.

Ali estava se escondendo perto de seus irmãos Nader, de 6 anos, e Aden, 8. Os atiradores dispararam em ambos, matando-os instantaneamente. Ele, então, disparou contra Ali, mas errou o alvo.

— Eu estava apavorado. Meu corpo todo tremia — lembra Ali.

Ali é um dos poucos sobreviventes do massacre, embora seja impossível confirmar sua história de forma independente. A imprensa entrou em contato com ele através de ativistas anti-regime em Houla que marcaram a entrevista com a criança via Skype.

A violência tem conotações sectárias, de acordo com relatos de testemunhas. As vítimas viviam em aldeias da área Houla de muçulmanos sunitas, mas as forças shabiha vieram de uma área próxima povoada por alauitas, um ramo do Islã xiita.

A maioria dos shabiha pertencem à seita alauita, assim como a família Assad e a elite dominante da Síria. Isso garante a fidelidade dos pistoleiros ao regime, que temem serem perseguidos se a maioria sunita ganhar o poder.

Os sunitas são mais de 22 milhões de pessoas na Síria, bem como a espinha dorsal da oposição. A oposição insiste que o movimento é inteiramente secular.

Não foi possível chegar até os moradores das aldeias alauitas na quarta-feira. Comunicações com grande parte da área foram cortadas, e muitos moradores fugiram.

Al-Qassem, o ativista que ajudou a recolher cadáveres em Houla, disse que a revolta desencadeou profundas tensões entre sunitas e alauitas.

— É claro que o regime trabalhou duro para criar uma atmosfera de medo entre os alauitas. Há um ódio profundo. O regime deu aos alauitas a ilusão de que o fim do regime vai significar o fim de suas aldeias e vida — disse al-Qassem, que é da área de Houla, embora não seja de uma das vilas sofreram o ataque no fim de semana.

Ele disse que o Exército vem despejando armas nas áreas alauitas.

— Toda casa em cada uma dessas aldeias alauitas tem rifles automáticos. O Exército tem armado estas aldeias, cada casa de acordo com o número de pessoas que ali vivem. Enquanto em Houla, que tem uma população de 120 mil habitantes, você pode encontrar apenas 500 ou 600 pessoas armadas. Existe um desequilíbrio — afirmou.

Dias após o ataque, muitas vítimas continuam desaparecidas. Ali pode descrever o ataque à sua família. Mas al-Qassem disse que a história completa do massacre nunca poderá emergir.

— Não há testemunhas do massacre, elas estão todas mortas — disse.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Policial morre durante tiroteio nas eleições presidenciais do Egito (Postado por Lucas Pinheiro)

Um policial morreu nesta quarta-feira (23) vítima de um tiro durante confrontos entre partidários de dois candidatos em frente a um local de votação no Cairo, neste primeiro turno das eleições presidenciais egípcias.

Segundo os serviços de segurança, o policial estava no local quando começou um tiroteio entre partidários de dois candidatos. Ele foi baleado no peito, e um civil ficou ferido na perna.

Apesar disso, a coalizão "Observadores para a proteção da revolução', composta por várias organizações de direitos humanos, qualificou de "promissor" o começo da votação.

As eleições parlamentares de novembro de 2011 e fevereiro de 2012 foram marcadas por muitas denúncias de irregularidades.

Os colégios eleitorais foram abertos às 8h locais (3h de Brasília). Mais de 50 milhões de egípcios estão convocados às urnas para escolher o primeiro presidente da democracia no país, em um pleito no qual partem como favoritos dois islamitas e dois ex-altos cargos do regime do ditador Hosni Mubarak.

Durante os 30 anos de governo de Mubarak, as eleições eram meras encenações, com resultados conhecidos de antemão. Os regimes anteriores, sob o domínio de faraós, sultões, reis e militares, tampouco eram democráticos.

Desde a deposição de Mubarak, em fevereiro de 2011, e a subida ao poder de uma junta militar provisória, o Egito vive uma fase de violência, protestos e impasse político.

A campanha eleitoral oficial, que durou três semanas, terminou no domingo (20). Durante esse período, houve o primeiro debate televisionado na história do país, envolvendo dois candidatos. Cartazes e faixas dominam as ruas.

Nenhum dos 12 candidatos deve obter maioria absoluta no primeiro turno, que acontece nestas quarta e quinta-feiras (24).

Quem vencer terá pela frente a enorme tarefa de realizar reformas e promover o crescimento econômico. As Forças Armadas, que foram um pilar do regime de Mubarak, devem manter uma considerável influência política pelos próximos anos. "Com estas eleições, completaremos o último passo do período de transição", disse o general Mohamed el-Assar.

Há poucas pesquisas confiáveis para indicar quem é o favorito.

O Ocidente, sempre receoso da ascensão de políticos islâmicos, e Israel, preocupado em manter a paz instaurada em 1979 com o Egito, acompanham atentamente o pleito, depois de verem os grupos islâmicos formarem maioria na eleição parlamentar que terminou em janeiro.

Muitos países do golfo Pérsico também se mostram preocupados com os destinos do mais populoso país árabe. Suas monarquias conservadoras até agora escaparam relativamente ilesas da onda de rebeliões democráticas que ficou conhecida como Primavera Árabe.

Tentando atenuar essas preocupações internacionais, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, prometeu no seu comício final, no domingo, que "não vamos exportar nossa revolução para ninguém".

Mursi entrou na disputa na última hora, depois da exclusão pelas autoridades do candidato titular da Irmandade. Ele não tem muito carisma, mas pode se valer da forte estrutura da Irmandade.

Entre seus rivais estão Abdel Moneim Abol Fotouh, um político islâmico que atrai um amplo contingente de apoiadores, de liberais a radicais salafistas; Amr Moussa, ex-chanceler e ex-dirigente da Liga Árabe, cujo nome é muito conhecido dos eleitores; e Ahmed Shafiq, ex-comandante das Forças Armadas e último primeiro-ministro de Mubarak.

Numa arrancada de última hora desponta Hamdeen Sabahy, um esquerdista inspirado por Gamal Abdel Nasser, cujos "Oficiais Livres" derrubaram o rei Farouk em 1952 e estabeleceram o sistema que fez com que militares ocupassem a presidência nos últimos 60 anos.

Sob pressão dos Estados Unidos, Mubarak realizou em 2005 uma eleição presidencial com vários candidatos, mas as regras impediram qualquer desafio real contra ele. Outra votação deveria ter acontecido em 2011, mas ele foi derrubado antes disso.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Atentado suicida deixa ao menos 63 mortos e diversos feridos no Iêmen (Postado por Lucas Pinheiro)

Ao menos 63 soldados foram mortos nesta segunda-feira (21) em Sanaa em um atentado suicida contra uma unidade militar que ensaiava um desfile, indicaram fontes policiais à agência Reuters. Citando fontes médicas, a AFP afirma que o ataque deixou cerca de 300 feridos e um número ainda maior de mortos, 96.

O balanço anterior informava sobre 50 mortos e dezenas de feridos no atentado cometido por um suicida, que detonou seus explosivos em meio às tropas que preparavam na praça Sabiin o desfile comemorativo pelo 22º aniversário da unificação do Iêmen. O homem estaria disfarçado em meio aos militares, usando um uniforme.

O ministro da Defesa, Mohamed Naser Ahmad, e o chefe do Estado Maior, Ali al-Ashual, que que estavam no local quando ocorreu a explosão, saíram ilesos, segundo informou o Ministério da Defesa em um comunicado.

A polícia cercou os arredores, por onde permaneciam corpos de vítimas e uma grande mancha negra onde a bomba explodiu.

Al-Qaeda
Um oficial da polícia, o general Hamid Besher, indicou à Efe que as primeiras investigações apontam que a al-Qaeda esteja por trás do atentado, que tem indícios similares a outros ataques levados a cabo pelo grupo.

Este atentado coincide com o desenrolar de uma grande ofensiva militar em parceria EUA-Iêmen no sul do país, iniciada no último dia 12 contra os redutos da al-Qaeda na província de Abian.

Na última semana, dezenas de pessoas, entre militares e supostos combatentes, perderam a vida nos combates.

A atividade da al-Qaeda aumentou no Iêmen desde que há mais de um ano explodiu a revolta popular contra o regime de Ali Abdullah Saleh, cuja saída definitiva do poder aconteceu no final de fevereiro passado com a posse de Hadi, que até então tinha sido seu vice-presidente.

O Iêmen é a casa da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) e é considerado pelos Estados Unidos uma grande ameaça, não apenas para a segurança da região mas também para a sua própria proteção. Um instrutor militar dos EUA ficou ferido em um ataque a uma equipe militar norte-americana no domingo (20).

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Número de mortes em explosões na capital da Síria sobe a 55, diz governo (Postado por Lucas Pinheiro)

Pelo menos 55 pessoas morreram e 372 ficaram feridas nesta quinta-feira (10), após duas explosões na zona de Qazaz, periferia de Damasco, informou o Ministério do Interior da Síria.

Balanço anterior falava em 40 mortos e 170 feridos.

A maioria das vítimas, segundo o ministério, são civis.

O ataque está sendo considerado o mais violento desde o início da revolta contra o presidente Bashar al Assad, em março do ano passado, que já deixou mais de 11 mil mortos, em sua maioria civis, segundo avaliação da oposição.

Oito sacos estão cheios com restos humanos, informou a televisão citando o ministério da Saúde.

O governo e a oposição se acusam mutuamente pelos atentados, "os mais importantes na Síria desde o início da revolta" em março de 2011, segundo o opositor Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

O atentado ocorreu às 8h locais (2h de Brasília), na hora do rush, perto de uma sede dos serviços de Inteligência, onde vários veículos foram incendiados.

Uma das explosões deixou um enorme buraco no solo.

A agência de notícias oficial "Sana" informou que os observadores da ONU inspecionaram o local onde aconteceram os dois ataques.

O chefe dos observadores da ONU na Síria, general Robert Mood, pediu ajuda internacional para conter a violência no país.

“Peço ajuda a todo o mundo na Síria e no exterior para deter a violência”, afirmou, ao chegar ao local do duplo atentado.

Os observadores se encontram na Síria para verificar o cumprimento do plano de paz da ONU que estipula, entre outras coisas, um cessar-fogo, em vigor desde 12 de abril.

Annan lamenta
O mediador internacional Kofi Annan condenou as duas explosões e pediu às forças sírias e aos combatentes da oposição que acabem com o derramamento de sangue, cumprindo a trégua.


"Estes atos abomináveis são inaceitáveis e a violência na Síria deve parar", disse Annan em um comunicado emitido em Genebra.

"Qualquer ação que sirva para escalar as tensões e aumentar o nível de violência só pode ser contraprodutiva para os interesses de todos os envolvidos", acrescentou.