sexta-feira, 13 de abril de 2012

Com trégua na Síria, situação é mais calma na fronteira com a Turquia (Postado por Lucas Pinheiro)

Chegada a data limite estabelecida pela ONU para a retirada de tropas e armamento pesado em áreas mais populosas da Síria, a situação nos diversos pontos da fronteira com a Turquia parecia muito mais calma que o usual.

Há um ano a Síria vive um violento conflito entre militantes contrários ao regime do presidente Bashar al Assad e as forças do governo. A repressão aos movimentos opositores já deixou mais de 9 mil mortos, segundo a ONU, e também há relatos de abusos e torturas por parte dos grupos contrários a Assad, de acordo com um relatório da Anistia Internacional. Com toda a violência, milhares de pesoas fogem para os países vizinhos, principalmente Síria e Turquia - como mostrou a reportagem do G1 no maior campo de refugiados sírio da região.

Com a trégua, a troca de tiros entre forças de segurança e rebeldes, normalmente ouvida a partir do final da tarde, silenciou, e o fluxo de refugiados foi bem menor que nos últimos dias.

Mesmo assim, ainda há relatos de conflitos por todo o país.

No Conselho de Segurança das Nações Unidas, o enviado especial Kofi Annan alegou “falta de compromisso” do governo sírio com a missão de paz. E adiantou o próximo passo, que será o envio de monitores com “total liberdade de movimentação e acesso à 'população’ síria, para formular um relatório independente”, que segundo ele dará suporte para a já iniciada implementação dos seis pontos listados no plano e servirá de guia para uma nova visita.

Autoridades turcas, preocupadas com a possibilidade de uma crise humanitária na froteira gerada pelo alto fluxo de refugiados nas últimas semanas, tentam pressionar a comunidade internacional para a criação de uma zona de segurança, apoiada pela maioria dos grupos oposicionistas dentro e fora do país.

Mas a reunião do Conselho de Segurança em Geneva deixou claro que a missão de paz encabeçada por Kofi Annan ainda terá sobrevida antes de uma possível intervenção.

Violência continuada
Por meio da agência de notícias Sana, o governo sírio relatou um atentado contra ônibus que transportava 25 oficiais do exército em Alepo, e assassinatos de um secretário do partido Baath em Deraa e de um general das forças armadas no bairro de Jaramana, subúrbio de Damasco.

O grupo opositor Exército Livre da Síria (ELS) alega que passou a respeitar o cessar-fogo no dia 10, com a ressalva de que apenas tem respondido às ofensivas do regime desde terça-feira. Mas como a estrutura do ELS ainda é descentralizada, dividida por falanges que atuam sob a orientação de comandos independentes, fica muito difícil coordenar as ações de todos os grupos que formam a resistência armada.

Ativistas que permanecem no país disseram ao G1 que tanques continuam circulando pelas maiores cidades, e que nenhum dos milhares de check points foi desmontado. Segundo eles, bairros de Homs, em especial Ain Ajuz, continuam sendo bombardeados com morteiros, e subúrbios de Damasco e Hama tiveram intensos tiroteios ao longo do dia.

“Acabei de voltar da Síria”, disse Ahmad, um adolescente de 18 anos morador do campo de refugiados de Reyhanli, na província de Hatay, à reportagem. Acompanhado por militares turcos que o traziam de volta, ele contou que teve a casa foi incendiada na semana passada, porque seu pai luta pelo ELS. Em meio ao ataque ao vilarejo, ele se perdeu da mãe e da irmã, e não tem mais notícias sobre ambas desde então. “Fui procurar meu pai. Cheguei bem perto da minha vila, em Idlib, mas toda a região continua cheia de tanques. Uma família me acolheu, e eles me disseram que viram um homem cair morto logo depois do toque de recolher, mas não ouviram nada. Eles estão usando silenciadores”, disse.

Um caminhoneiro que atravessava a fronteira e parou para verificar os danos na lataria alegou ter sido alvo de tiros, junto com outros quatro caminhões quando voltavam para a Turquia vindo de Khan Shaykhun, em Idlib. “Eram militares sírios, de uniforme, que atiraram na gente sem qualquer motivo”, disse.

“Eu falei com meus amigos de Hama agora, e me disseram que o exército está escondendo tanques e armas em trincheiras. Essa é a maneira deles de respeitar o cessar-fogo. Você vai ver o que vai acontecer amanã [sexta-feira]. As pessoas vão tomar as ruas pelo país para testar o cessar-fogo e o regime vai continuar com a desculpa de grupos terroristas entre manifestantes, e vão nos massacrar mais uma vez”, falou Khaled Hussein, refugiado vindo de Halfaya, em Hama.

Apesar dos relatos, diversos moradores do pequeno vilarejo de Harrasan, por onde grande parte dos refugiados sírios atravessam a fronteira disseram ao G1 que não viram nenhuma família pedindo ajuda ou sendo resgatada pelos militares turcos na quinta-feira.

Incidente ou provocação
Na terça-feira, o campo de refugiados situado na província de Kilis foi alvejado por militares sírios. 19 pessoas foram parar no hospital estatal da cidade, sendo uma delas um policial turco apedrejado por residentes. “FIcamos revoltados porque além de abandonar o posto ele se recusou a nos ajudar a carregar os corpos” disse Tareq, ativista de Jisr Al-Shughur. Os incidentes deixaram dois mortos, e uma sensação de inconformação entre os refugiados. No dia seguinte, Kofi Annan passou pelos campos, de helicóptero.

“Fico triste vendo todo esse aparato de segurança para receber o político da ONU, sendo que nós estamos abandonados. Ele não vai nem descer do helicóptero pra circular aqui no campo e falar conosco. Queremos contar o que aconteceu, atiraram em nós enquanto estávamos dormindo, não temos segurança alguma” desabafou Lilas Al-Khatheb.

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